Quando me predispus a me reunir com meus amigos mais uma vez para assistir, dessa vez, ao terceiro longa da franquia espanhola REC (isso já virou uma espécie de “ritual” sempre que um novo filme deles é lançado, e admito que é a parte mais divertida) a primeira coisa que pensei foi: “poxa... lá vem mais zumbis escandalosos, câmeras tremidas e infindáveis sustos numa ótima franquia de terror. Se conseguirem repetir a dose dos dois primeiros filmes eu me darei por satisfeito”. E foi exatamente com essa mentalidade que meu mundinho de esperanças com relação ao novo filme do diretor Paco Plaza (um dos dois que dirigiram o filme original) foi por água a baixo. Infelizmente eu preciso dar a noticia para os fãs mais ardorosos que ainda não tiveram a oportunidade de assistir o terceiro filme: NÃO ASSISTAM! É UMA BOS...!
Eu poderia simplesmente terminar a resenha por aqui e deixar que vocês conferissem com seus próprios olhos (o filme já está disponível para download em ótima qualidade, mas com uma certa dificuldade em se encontrar legendas em português). Entretanto, como eu não sou uma criatura naturalmente malvada, vou citar aqui os principais pontos que achei defeituosos, desconsiderando o fato principal de que O FILME INTEIRO é um defeito e que a sensação que eu tive quando terminei de assisti-lo foi a de que os diretores, produtores, atores e quaisquer envolvidos na produção desse filme tentaram me estuprar intelectualmente.
Seria um grito de desespero ou de arrependimento por ter feito o filme? rs |
O primeiro ponto falho, ao meu ver, foi o total (ou quase) abandono as origens. Ironicamente o filme se chama “Gênesis”, mas estou me perguntando até agora o porque desse título, já que ele simplesmente não explica nada por nada. Muito pelo contrário, só joga mais lenha na fogueira, quando ela simplesmente não precisava mais ser acesa. Se antes tínhamos uma história rasa, mas bem trabalhada, com inicio, meio e fim (ainda que não fossem os melhores finais do mundo, mas perfeitamente aceitáveis e até mesmo plausíveis) em REC e REC 2, o que vemos em REC 3 é um amontoado de frases clichês (até mesmo já usadas nas produções anteriores) do tipo “estou filmando porque todos precisam saber da verdade”, pessoas correndo, zumbis super poderosos saltando do segundo andar das casas e cenas de morte muito mal elaboradas, até mesmo para um filme de produção duvidosa. O ataque inicial do Tio da noiva, o primeiro infectado, por exemplo, apesar de ser idêntico ao ataque da senhora idosa presa no prédio em “REC 1” não tem nem ⅓ do mesmo impacto causado pela falta de trilha sonora, aliada ao ambiente obscuro e a câmera tremida do primeiro filme.
A caracterização dos Zumbis é uma das poucas coisas "boas" do filme |
E por falar em técnicas de filmagem, até mesmo essas origens foram abandonadas no longa. Aqui não existe mais a famosa câmera tremida, o tal do “falso documentário”, bem estilo “Cannibal Holocaust” ou “The Blair Witch Project”, pelo qual o próprio REC ficou bastante conhecido e que, ao meu ver, era o diferencial dele em meio aos tantos filmes de zumbis que inundam as prateleiras das videolocadoras atualmente. Até mesmo a interpretação dos atores, ao meu ver, foi prejudicada nessa mudança brusca de características técnicas. O inicio do filme é apresentado como um falso documentário, com um dos parentes dos noivos filmando a festa de casamento, e até aqui as atuações são muito boas. A sensação de verossimilhança que os atores passam chega a impressionar. Só depois de alguns minutos, quando o ataque zumbi realmente começa, é que adota-se o sistema “comum” de filmagens. E infelizmente aqui a coisa desanda de vez e os atores parece que simplesmente se esqueceram de como deveriam atuar.
Gastaram, muito provavelmente, bem mais dinheiro para produzir esse filme, abandonando o estilo “falso documentário” do que os anteriores e conseguiram fazer um trabalho infinitamente inferior. Com exceção das poucas cenas no interior da festa após o casamento, mal iluminadas propositalmente (e que, essas sim passam uma certa sensação de angústia, diante do primeiro ataque dos mortos vivos), o resto do filme, mesmo tentando, não convence no quesito fotografia. O longa é tão ruim que é complicado até mesmo encontrar palavras para explicar o “talento” que o diretor teve em não conseguir preencher a história com um momento sequer de clímax que fizesse o telespectador ficar preso a cadeira, esperando, angustiado, pelo próximo ataque zumbi.
A famigerada cena da Serra Elétrica: Uma desculpa esfarrapada para mostrar as pernocas da protagonista rs |
Os zumbis, a proposito, são outra grande falha do filme. Tudo bem que em REC 2 foi explicado que há toda uma origem cientifica E espiritual e talz para os famigerados mortos vivos (um dos poucos pontos que não me agradaram no segundo filme, mas enfim...) mas convenhamos... (spoilers a frente) O que são aqueles “tremeliques” esquisitos no momento em que o Padre “exorciza” os bichinhos pela sistema de som do casamento? Se deixarmos uma batida eletrônica de fundo musical a impressão que ficará é que os zumbis são playboyzinhos mal vestidos fritando numa rave. Simplesmente ridículo. E por que, afinal de contas, enquanto alguns zumbis são ágeis, correndo feito macacos loucos na selva amazônica atrás de comida, outros são lerdos feito bichos-preguiça? Admito que se analisadas a fio são questões secundarias e sem muita importância (afinal, quem se importa para as motivações ou até mesmo para o modo como os zumbis aparecem nesses filmes? A carnificina é o que conta rs), mas são tantos pontos falhos que acaba sendo difícil ignorar, até mesmo os mais insignificantes.
Enfim... Resumindo em miúdos e sem querer detonar mais ainda o filme, “REC 3” simplesmente não se sustenta. História fraca e previsível (até mesmo para os padrões de filmes gore), produção razoável (afinal a caracterização dos zumbis e dos demais personagens - com exceção daquela armadura medieval ridícula que o noivo usa em um trecho do filme - ainda se salva) e a quase total ausência de bons momentos de terror fazem desse o pior filme de toda a franquia. O meu conselho é simplesmente ignorar a existência desse filme e esperar que REC 4 volte REALMENTE as origens e salve o que ainda resta de uma das melhores franquias de terror dos últimos tempos.
Postado por Matheus
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